Ontem à noite, eu lia o blog do Lexey (Alexey Dodsworth). E me deparei com um post. Neste, um trecho me chamou atenção. Até o compartilhei no facebook. Eis o que ele escreve:
“Na prática, nem sempre “ter fé” e “acreditar” trará os resultados esperados. Muitas vezes temos o nosso desejo intenso simplesmente negado. Você descobre que tem câncer, é muito religioso, reza, faz novena… e morre. Você é uma pessoa boa, se sente merecedora, faz o bem, ajuda os outros e, mesmo assim, sua casa é arrastada por uma enchente.
A vida pode ser mesmo muito implacável, apesar de nosso otimismo. Evidentemente, as histórias que vendem são aquelas nas quais o “acreditar” foi coroado com êxito. Sempre é possível contra-argumentar, dizendo que se algo não deu certo é porque a pessoa “não acreditou o suficiente”. Culpar o indivíduo é mais confortável do que se ver diante da possibilidade angustiante de que o Universo pouco se lixa pra você.
E que não, não basta “acreditar muito” ou “ter fé”: se algo tiver que ocorrer, ocorrerá. Nossa mente não é onipotente.”
Estou passando pelo trânsito de Plutão em Capricórnio em cima de meu Sol na Casa 9. Essa Casa do Mapa Natal diz respeito às nossas crenças. Qual a nossa fé. Quais os princípios filosóficos, religiosos, científicos, culturais que nos norteiam pela vida.
Como Plutão tende a representar uma fase de crise arretada a fim de gerar uma transformação significativa, vocês podem imaginar o quanto minha maneira de enxergar a vida e minhas crenças (Casa 9) estão passando por tal crise (Plutão).
Ontem foi justamente o dia em que Marte em trânsito por Áries fez quadratura exata ao meu Sol Natal (e, claro, ativou essa conjunção Plutão em Trânsito-Sol). Aí me deparo com tal texto do Alexey.
Ler o que ele escreveu me ajudou a tomar consciência – com clareza – de qual fé estou desenvolvendo no momento.
Eu já acreditei que se eu orasse bastante, Deus não permitiria que eu sofresse. Vivi muitos anos com essa
crença. Junto a ela, eu também acreditava que se eu fosse bondoso o suficiente, praticasse o bem, sendo um cara legal, que não passa por cima dos outros e não lhes faz mal, eu teria um “crédito” lá no céu. E estaria imune aos contratempos da vida, aos sofrimentos, às tragédias, as dores, às perdas.
Com o tempo, fui observando melhor a vida das pessoas ao meu redor. E, claro, a minha própria. Percebi que a oração não nos imuniza contra as tragédias e os sofrimentos. O que ela nos proporciona (pelo menos a mim) é a força para enfrentar os desafios e os dissabores existenciais, de modo a não sofrer tanto, não me desequilibrar tanto diante das crises. E ter melhores condições de renascer diante das mesmas.
À medida que mergulhava na terapia junguiana, adentrando em padrões de comportamento herdados de meus pais e avós – altamente religiosos -, fui e vou compreendendo muito dessas expectativas (que são também culturais).
E hoje me deparo com a seguinte pergunta, da minha amiga Simone Pereira, lá no facebook:
“Então as teorias das afirmações constantes seriam meras palavras ao vento Yub?”
Eu lhe disse que se tais afirmações constantes forem usadas para BARGANHAR com Deus, são palavras jogadas ao vento. Mas se tais afirmações forem a técnica que mais nos toca, nos proporciona um estado de espírito confiante e repleto de fé diante da imensidão da vida, ótimo! Elas nos permitirão criar uma condição interna forte o suficiente para enfrentarmos corajosamente os desafios da vida.
Porque, no fundo, as orações, técnicas de co-criação, mentalizações, afirmações positivas, costumam ser o meio que encontramos para controlar a vida segundo nossos desejos. Queremos isso, desejamos aquilo, almejamos evitar aquilo outro. E nos aferramos a crenças religiosas, filosóficas, culturais e de “pensamento positivo” para não nos sentirmos tão fracos.
Em outras palavras, com COMPENSAÇÃO ao nosso medo de sermos atropelados pelos eventos trágicos e dolorosos da vida, nos abraçamos ansiosamente a afirmações positivas, rezas, trabalhos espirituais, crenças, religiões e livros de autoajuda.
Esses recursos, em si, não são ruins, não são negativos. A intenção que nos move ao utiliza-los é que pode ser bem imatura, prepotente e pretensiosamente onipotente.
A ironia da vida é que, justamente quando percebemos que não temos o controle de evitar que perdas, tragédias, sofrimentos e dores nos assolem, nós nos abrimos para o terror e o pânico que é VIVER. Sim, somos criaturas muito pequenas diante da força incomensurável dos eventos da vida. Perceber que não temos a força suficiente para evitar a dor, o sofrimento e as dramaticidades aterrorizantes do existir, pra mim, GERA A VERDADEIRA FÉ.
A verdade fé é um reconhecimento de que não temos controle de pôrra nenhuma. De que acordamos cada dia sentindo a ansiosa angústia de que uma catástrofe pode ocorrer na nossa vida neste dia. E em vez de lutar contra essa REALIDADE, de que QUALQUER COISA pode acontecer hoje, nos dá liberdade, abertura e confiança no futuro. Não evitamos mais qualquer experiência que está disponível para ser vivida ou que poderá acontecer. Simplesmente nos entregamos de corpo e alma AO QUE TIVER DE SER.
Essa postura, pra mim, é a da VERDADEIRA FÉ. É o reconhecimento de nossa natureza humana e infinitamente mais fraca que o poder da vida.
Isso quer dizer que abandonei certas técnicas e rituais? Não. Muito pelo contrário. Agora eu sei que as minhas autohipnoses antes de dormir e ao acordar preparam o meu espírito e o meu corpo para estar relaxado e viver a vida intensamente, sem defesas, sem resistências.
Óbvio que o conflito vira e mexe surge, sorrateiro, em vários momentos do dia. “Meu Deus, pode acontecer isso, aquilo e aquilo outro. E eu ser atropelado por essa perda, essa tragédia, essa dor.” Corto a chave desses pensamentos habituais, dessas crenças temerosas com relação ao futuro, ao imaginar a alavanca descer. Zaz! Volto para o presente e toco a vida com um frescor corajoso por reconhecer meu medo, meu terror, meu pânico.
Em alguma esquina qualquer poderemos ser assolados pelo acaso aterrorizante do sofrimento, da perda, da tragédia. Mas isso não tem controle. Pode acontecer. Pode não acontecer. Pode ocorrer em algum outro dia. Mas nesse dia, o que eu posso fazer? Controlar já sei que não consigo e nem tenho força suficiente para isso. Então, me resta uma estratégia. Me entregar à vida, com todo seu assombro, com todas as suas possibilidades. E as autohipnoses, livros de autoajuda, orações, afirmações positivas e outras milhares de técnicas me ajudam a ter essa postura entregue. Porque a vida também pode me oferecer constantemente várias bênçãos, presentes e sorte, muita sorte. Porém, não tenho controle sobre isso também não. O que tiver de ser, será – independente de eu querer ou temer. Isso é a vida. Há um pacote de possibilidades. E um acaso para orquestrar a manifestação prática delas.
Beijãozão nocês…
Yub