A percepção e a tentativa de compreender a dinâmica envolvida numa relação mais íntima sempre me fascinaram. Adoro enxergar a influência que tal troca íntima provoca na vida de duas pessoas que se relacionam mais profundamente. E o quanto esse intercâmbio traz à tona conteúdos emocionais, medos e potenciais até então ocultos em cada pessoa.
A Astrologia muito me ajudou – e assim continua – a alcançar certos níveis de compreensão outrora apenas vislumbrados e almejados. E tal processo é de uma beleza enriquecedora. É sobre isso que quero compartilhar agora.
Desenvolvimento: reflexões, mediunidade, experiências e descobertas
Como minha professora de Astrologia falava: “Yubertson, não existe muro entre as Casas.”
Realmente… Parece que há pontes que interligam perfeitamente cada Casa Astrológica, conduzindo a experiência simbolizada por cada uma a um ponto de gradação mais complexo e completo na Casa Astrológica seguinte. Eis a complementação intrínseca nas 12 que compõem o Círculo Zodiacal. É a completude simbolizada pelo círculo que elas formam.
E entre a Casa 7 e a Casa 8, especificamente, essa ponte existente entre ambas talvez poderia ser considerada na verdade mais como um túnel. Porque transpassa aquela sensação que temos quando nos locomovemos por um túnel: de uma certa clareza e visibilidade num contato objetivo e dinâmico com o outro (referente à Casa 7), desembocamos numa via escura que inicialmente nos assusta pelo choque da visibilidade agora drasticamente reduzida. Precisamos forçar a vista para adaptar-nos à escuridão ali reinante e buscar aquela coragem do fundo da alma, necessária para nos sentirmos seguros diante daquele ambiente até então desconhecido (referente à Casa 8).
Essa fusão de uma “via” astrológica na outra, simbolizada, no caso, por essa complementaridade entre as Casas 7 e 8, quando observada, estudada e averiguada de maneira prática em nossos relacionamentos, traz em si uma oportunidade incrível de autoconhecimento. Esta é originada mais diretamente por aquilo que cutucamos e provocamos (bem como pelo que somos cutucados e provocados) na troca com o Outro.
A Casa 7, enquanto Casa Cardinal, associada ao elemento Ar e sendo domicílio de Vênus, evidencia, basicamente, uma atitude dinâmica no nosso agir exterior, relativo a uma troca interpessoal. Representa a situação em que compartilharemos nossos valores com quem relacionamos. Nesse partilhar, teremos a chance de receber em troca um espelho, a partir do qual poderemos alcançar um nível mais claro e objetivo a respeito de nós próprios (não é à toa que ela é oposta ao Ascendente).
Daí a importância vital do Outro na nossa vida. A partir do que “ele” vai nos mostrando sobre nós mesmos, temos a oportunidade de nos conhecer melhor, principalmente no que diz respeito ao que gostamos/valorizamos de trocar numa relação, ao estilo e maneira de nos comportar num relacionamento. Este Outro é, portanto, fundamental para essa autoconscientização e maior autoconhecimento.
E depois que estamos de mãos dadas numa parceria (Casa 7), uma nova etapa se apresenta para nós (Casa 8). Após alcançarmos uma maior percepção sobre aquilo de que gostamos, valorizamos e desejamos dar e receber no intercâmbio afetivo (Casa 7), vamos agora adentrar naquele túnel do qual falamos anteriormente (Casa 8). Será que estamos, então, preparados para descobrir nessa escuridão aspectos até então desconhecidos, inconscientes e/ou bastante sutis de nossa natureza interior?
Só percorrendo esse túnel para sabermos. E, para tal percurso, precisamos de muita coragem (Plutão e Marte se encontram domiciliados nesta tal de Casa 8). Essa “dupla dinâmica” simboliza o tipo de experiência pela qual tendemos a vivenciar quando envolvidos numa troca mais íntima com o Outro. Iremos cutucar e provocar (Marte) uma natureza talvez ainda oculta/dormente/inconsciente (Casa 8) deste Outro, recebendo talvez a mesma intensidade (Plutão) como reação daquilo que geramos (Casa 8).
Essas cutucadas e provocações incomodam e ameaçam o sentido de segurança até então alcançado por cada um de nós, pois, muito provavelmente, conteúdos ainda ignorados, reprimidos, inconscientes, sutis de nossa natureza, serão acordados por esse estímulo marcial: Plutão à vista! E é daí que poderemos extrair nossas mais profundas riquezas (Plutão), atingindo um nível mais intenso de segurança (Casa 8).
Afinal, a Casa 8 não é uma área da vida onde buscamos a segurança (Casa sucedente) emocional (Casa associada ao elemento Água)?
E qual é a maneira mais comum de tentarmos atingir essa segurança emocional? Não é através do jogo de poder envolvido nas tentativas de controlar, dominar, manipular psiquicamente, sexualmente, financeiramente, emocionalmente as pessoas e os ambientes?
Então, quando estamos tentando buscar essa segurança emocional através dessas posturas existenciais, de acordo com o Signo ocupante dessa Casa em nosso Mapa, quem está reinando aqui é a nossa vontade pessoal/egoísta, certo?
Porém, a Casa 8 é um marco de transcendência, pois as 6 primeiras Casas indicaram uma jornada rumo a uma maior definição e autoaperfeiçoamento de nosso eu, que, a partir da 7, já começa a se colocar de uma maneira mais social/coletiva no processo existencial, de modo a compartilhar essa mesma personalidade já delineada, doando-se mais, não pensando mais tanto em si. E na Casa 8 esse doar aos outros se torna ainda mais intenso – daí também a associação com a transformação que essa área da vida representa.
Bom, continuemos então nessa linha de raciocínio: como alcançar essa segurança emocional? Já percebemos que manipular, controlar, dominar egoisticamente nos traz apenas uma ilusão de que controlamos e de que estamos seguros.
Com algum tipo de crise (morte, separação, vampirismo, fracasso financeiro, possessão psíquica, etc.), isso pode ofertar-nos a possibilidade da transformação, tendo a compreensão de que tudo na vida é transitório.
Assim, chegando nesse nível de compreensão a respeito da transitoriedade da ilusória segurança emocional, teremos de cavar mais fundo para encontrar a verdadeira segurança emocional. E qual é?
É a profunda paz interior! E essa paz só pode ser alcançada quando nossos obstinados desejos pessoais compulsivos, os quais nos levavam a adotar posturas não muito saudáveis (mas que eram o meio mais natural encontrado por nós objetivando a segurança emocional), são transformados através da entrega e da receptividade a essa Vontade Maior da Vida, a esse Poder Libertador existente em nossa Alma.
Aí sim, nesse nível de entrega e de receptividade (é uma Casa de Água, certo?), nossa personalidade estará em mais unicidade com o poder transpessoal, representando, segundo os posicionamentos de nossa Casa 8, a maneira como vivenciamos essa entrega e receptividade à força psíquica.
Convém lembrar aqui o quanto pessoas com uma Casa 8 “povoada” possuem uma presença eloqüentemente silenciosa, “atuando no astral” – no campo psíquico dos outros e do ambiente – com uma força toda especial. Podem, assim, incomodarem bastante… Pois trazem à tona o que está reprimido no outro.
Talvez esse incômodo ocorra em função do quanto nós resistimos naturalmente às mudanças, pois tendemos a acomodar-nos com a nossa sensação/ilusão de segurança eterna em relação ao que já nos é conhecido (independente do quanto ruim tal realidade possa ser).
Tais pessoas (com Planetas na 8) poderiam ser aquelas consideradas agentes catalisadoras de mudanças. Tudo bem que qualquer encontro mais profundo com a natureza mais íntima do Outro gera
mudanças de mão dupla, porém, aquelas que possuem algum Planeta nesta área do Mapa Natal costumam ser mais “preparadas” para exercer essa influência sobre a atmosfera psíquica do Outro, bem como a sentir mais fortemente o que esse conteúdo encontrado no Outro traz consigo.
Parece que tais pessoas são “convocadas” pelo Destino para estarem ao lado do Outro nos momentos que este “precisa” de uma bela e transformadora cutucada, aquela que, por exemplo, gera uma crise existencial significativa, a partir da qual haverá a possibilidade de enterrar certas facetas obsoletas de si próprio. E, com isso, abre-se espaço para o renascimento das mesmas sob um outro nível de consciência, propiciador do sentido mais profundo de segurança.
Também sou levado a refletir sobre aquelas histórias a respeito dos médiuns (aqueles considerados assim por terem uma sintonia e uma “atuação” mais “apurada” com o “mundo espiritual”), em que há uma captação do campo sutil de energia da pessoa que está diante de algum desses seres “antenados.” O acesso ao campo psíquico da pessoa é feito por eles e a partir do que ali percebem, revelam facetas e situações dela que, nessa revelação, traz um certo choque cheio de ebulição que pode ser aproveitado para gerar uma transformação significativa na vida dessa mesma pessoa dali em diante.
Esse revelar o oculto (o que estava inconsciente, o que se mostrava num nível bastante sutil de percepção) tende a ser uma experiência impactante para a pessoa que desconhecia tais “fatos” e, assim, pode tanto ter um efeito construtivo quanto destrutivo. Dependerá muito da maneira como esse desvelar foi feito pelo médium, da maturidade da pessoa, do momento e do nível de vulnerabilidade em que a mesma pessoa se encontrava, enfim, de inúmeros fatores (talvez tão escondidos e sutis, para não dizer desconhecidos, quanto o estilo de experiência relativo a esta Casa).
Tais histórias mediúnicas (sendo verdadeiras factualmente ou não), no mínimo, podem estar sinalizando a importância e o efeito evidenciados num contato mais íntimo entre nós e o Outro. É uma experiência forte, impactante, que chacoalha nossa segurança num nível muito privado de nossa natureza psíquica. É um terreno do existir muito complexo e delicado, que ainda demanda muita experimentação e pesquisa pessoal e profissional de nossa parte.
De todo modo, não entrando no mérito da veracidade ou não do fenômeno mediúnico nem nos perdendo nos questionamentos a ele associados, tais como se o médium estaria acessando o inconsciente coletivo, ou uma reencarnação passada da pessoa, ou um complexo psíquico (segundo a terminologia junguiana) existente na alma da pessoa ou da dele que acaba sendo projetado na pessoa, etc., creio que talvez possamos aprender muito refletindo na natureza do elemento água referente à Casa 8.
Explico-me melhor: independentemente se a pessoa é considerada médium ou não, uma pessoa com a Casa 8 marcante tem uma atuação mais efetiva sobre a intimidade do Outro. Levando em consideração que o elemento água simboliza uma sabedoria feminina (talvez semelhante ao agir pela não-ação – Wu Wei – preconizada pelos Orientais), muito provavelmente, uma maneira de atuar sobre a atmosfera psíquica do Outro poderia ser através da receptividade acolhedora ao Outro. Primeiro o médium precisa ser receptivo (elemento água) para só então “expressar” todo o poder de influência e transformação simbolizados pelos posicionamentos existentes na Casa 8.
Em outras palavras, em vez da pessoa com sua Casa 8 (principalmente com posicionamentos marcantes aí), ficar procurando deflagrar as melecas existenciais/psíquicas do Outro, tal como um estuprador psíquico, violentando o Outro com revelações impactantes a respeito de suas sombras (incluindo nestas as capacidades/forças latentes ainda não desenvolvidas), o que poderia gerar muita destruição, ela poderia, em contrapartida, usar toda a sabedoria contida na receptividade acolhedora em relação ao Outro (Água/Casa 8). Ou seja, quando o Outro quiser e/ou se sentir preparado para compreender certas facetas de si mesmo , ele “virá em direção” à pessoa com uma Casa 8 considerável.
Desse modo, os efeitos repercutidos nos recônditos mais profundos do Outro e da própria pessoa teriam a possibilidade de serem muito provavelmente bastante construtivos, uma vez que estariam em ressonância com o que esta área do Mapa Astrológico evidencia por estar ligada ao elemento água.
Mas e aquelas pessoas que não possuem Planetas em seu Mapa Natal nesta Casa?
Pelo que tenho percebido em minha experiência e estudos, a linha de raciocínio acima exposta também funciona, ou seja, a partir de uma receptividade para com a vinda do Outro, há nesse encontro a oportunidade de um contato mais construtivo, pois aquelas qualidades e comportamentos relativos ao simbolismo do Signo da Cúspide da 8 têm condições de serem expressados com maior naturalidade, digamos assim. Afinal, o estilo apropriado concernente a uma Casa de água (acolhedora, receptiva) foi correspondido.
Assim, uma pessoa, por exemplo, com Sagitário ocupando a Cúspide da 8, vai aguardar a vinda e a postura receptiva do Outro, o qual virá, muito provavelmente, com questionamentos filosóficos e existenciais (Sagitário). Estes criarão a oportunidade para tal pessoa filosofar, esclarecer, fazer pensar, refletir, mostrar e inspirar o Outro com muita sabedoria, bom-humor e simplicidade enaltecedores (Sagitário). Digamos que o estilo da catalisação de mudanças de um Sagitário na Casa 8 poderá ser a partir da força e do poder (Casa 8) de sua sabedoria profunda, a qual é usada e expressada para alargar os horizontes mentais, filosóficos, religiosos e existenciais (Sagitário) do Outro, tocando-lhe mais intimamente (Casa 8), pois veio do mais profundo da pessoa com tal Signo na 8.
Já a pessoa com Touro na Casa 8 poderia gerar transformações (Casa 8) na vida financeira (Touro) do Outro, trazendo-lhe maior estabilidade, segurança e ponto de apoio e de estrutura. Oferta ao Outro (Casa 8) também a possibilidade de aprender a lidar melhor com o seu corpo, com o mundo material, com os seus valores práticos (Touro).
Obviamente que, como essa tal de Casa 8 é uma via transformadora de mão dupla, o que expus como capacidade de provocar e gerar mudanças profundas no Outro (segundo os posicionamentos astrológicos ali presentes), também podem ser remetidas à própria pessoa justamente a partir deste contato imediato com um outro ser humano e ambiente.
E, nesse caso, por exemplo, uma pessoa que tenha o Signo de Virgem aí localizado, pode ser muito beneficiada (Casa 8) se enveredando por terapias que utilizam bastante o corpo (Virgem), tal como a cinesiologia, o shiatsu, o do-in. Esse tipo de contato com uma outra pessoa pode ser muito enriquecedor para alguém que tenha Virgem na Casa 8, tendo em vista que pode extrair dela certas riquezas anteriormente reprimidas, bloqueadas, desconhecidas, não-desenvolvidas (Casa 8) que, a partir desses toques em certos pontos específicos do corpo, há uma maior conscientização e posterior compreensão para que tais recursos sejam trazidos à tona e colocados a serviço do processo de auto-transformação dela própria (Casa 8).
Conclusão: a importância do “túnel” em nossa vida
Tentei transmitir o quanto significativa pode ser para o nosso autoconhecimento essa experiência de passarmos pelo túnel existente entre a Casa 7 e a Casa 8, neste contato imediato com o Outro.
E, talvez, para percorrermos com mais proveito esse trajeto que nos remete a muitos conteúdos possivelmente ocultos, reprimidos, profundos, sutis, inconscientes de nós mesmos e do Outro, a Astrologia possa contribuir e muito nesse sentido. Porque, ao tentarmos dissecar, aceitar e compreender as possíveis dinâmicas comportamentais relativas aos nossos simbolismos astrológicos ali presentes, podemos, assim, direcionar com uma certa consciência o contato com essa realidade de nós mesmos e do Outro, visando um enriquecimento conjunto que beneficie a todos (Casa 8).
Então, munidos de um certo conhecimento a respeito dos posicionamentos astrológicos existentes nas nossas Casas 7 e 8, nos enveredemos por esse túnel que as conecta, respirando fundo, concentrando nosso olhar como se fôssemos uma águia, encontrando em nosso eu mais profundo a coragem de atravessar essa escuridão com muita determinação e intensidade. Pois é chegada a hora de transmutarmos nossos medos e fraquezas em poder e riquezas inestimáveis, anteriormente inconscientes, evitados e/ou não trabalhados. Mas, agora, em decorrência de nossa coragem desbravadora, têm tudo para serem transformados em poderosos recursos a serem belissimamente ofertados nestes contatos imediatos com o Outro.
Beijãozão nocês…