Há cerca de dez dias, assisti o intenso e visceral CISNE NEGRO. Eu até então nunca tinha assistido um filme que descrevesse tão perfeitamente a psique da mulher, principalmente o seu contato com a Sombra.
A Sombra, na psicologia analítica, é formada pelos atributos renegados por nossa persona. Ou seja, nossa imagem familiar-social (educação) não permite que apresentemos determinadas características e posturas. E essas qualidades são jogadas na Sombra.
Nossa criação (expectativas dos pais, da família e da sociedade) constroem uma persona, uma imagem ideal. E tudo que não corresponde a essas expectativas vão para o depósito psíquico chamado Sombra. Há muita energia bruta, portanto, acumulada no fundo de nossa imagem social.
O detalhe é que por trás de cada sorriso educado e de cada fala socialmente aceita, existe inveja, paixão, ciúmes, raiva e desejos intensos. E, claro, o perigo desse conteúdo irromper do inconsciente por essa rachadura da persona torna-se cada dia maior, quanto maior for nosso apego a uma imagem social.
A rachadura na face de Natalie Portman estampada no cartaz do filme (conforme colei acima aqui neste post do Blog) representa esse processo de ruptura daquelas defesas e resistências ao nosso eu mais profundo. E… putz, tem tudo a ver com a dinâmica do Arcano XVI do Tarot: A Torre. Veja este vídeo:
Essa quebra, esse rompimento da máscara de menina boazinha, certinha, educadinha é extremamente necessário no desenvolvimento da mulher. E a personagem Nina de Cisne Negro descreve precisamente essa necessidade.
O problema é que ela se envolveu nessa vivência de uma forma psicótica. O que para nós é loucura, para o psicótico esse delírio é real, literal. No filme, muitas vezes nos perguntamos:
– Isso está ocorrendo de fato ou é apenas imaginação, sonho, ilusão, algo que se passa na mente da personagem?
É real para ela. O que se passa na mente do psicótico é extremamente real para ele. Daí o risco de seguir uma necessidade psíquica (ir além da persona, chegando até a Sombra, a fim de se alcançar o Ânimus) de uma forma prejudicial, destrutiva. É o que o filme demonstra brilhantemente, numa crescente cada vez mais intensa e profunda, bela e assustadora.
Por isso, quando vejo amigas minhas cultuando aquele padrão social de que peidar não é para moças, de que arrotar é feio, de que não ser educadinha é uma ofensa à sociedade e o pré-requisito para não ser bem-vista pelas pessoas, vejo o perigo no futuro.
Porque quando mulheres agem de forma tão bonitinha, corretinha, certinha, educadinha, constantemente como uma “boa moça”, o risco de em algum momento essa persona se romper trágica e destrutivamente como A Torre no Tarot simboliza é imenso. E carrega consigo um rastro considerável de destruição da vida afetiva, conjugal, profissional, familiar, acadêmica.
Beijãozão nocês…
Yub