"Depois da Chuva": o que é o certo? O que é o errado?

Na última sessão lá na terapia, meu psicólogo junguiano me sugeriu ver o filme DEPOIS DA CHUVA, começado por Kurosawa (roteiro) e finalizado (filmado) por seu discípulo Takashi Koizumi.

Como já tinha assistido há tempos e não o vi com a visão simbólica apresentada pelo Ítalo, desfrutei esse prazer nessa 6a.feira.

Genial!

Eu e o Ítalo falávamos das ações de um ego quando este é guiado pelo Self. Muitas vezes, a escolha que fazemos nestes raros momentos (pelo menos para mim) em que o ego não está no controle das decisões da vida, são de uma outra instância. Ou seja, vão contra certas regras e convensões sociais. O certo e o errado não são dessa ordem comum. Eles ganham uma relatividade.

Essa postura de um ego que faz escolhas que violam certas regras sobre o que é certo e errado é exemplificada pelo Ronin (Samurai “independente”, que não pertence a um Xógum) Misawa.

Primeiro porque ele já foge dos padrões de como um samurai precisa aparentar. Em vez de uma cara fechada, um jeito bronco de ser, o cara é todo gentil, educado, sorridente.

Ele e a esposa estão “presos” numa hosperdaria junto com várias outras pessoas por causa da chuva que torna impossível a travessia do rio para seguir viagem seja para onde for.

Misawa já tinha prometido à esposa que nunca mais lutaria por dinheiro. Porém, ao ver os hóspedes brigando por conta de comida e de saco cheio por não poderem nem sair dali em função da chuva que despenca, o ronin decide sair. Luta por dinheiro e ganha uma grana lega. O suficiente para comprar muita comida e bebida.

Ele leva tudo isso para dentro da hospedaria e tem início uma verdadeira festa de confraternização entre todos os hóspedes. A galera come, bebe, canta, conta piadas, enfim, se diverte. E Misawa acaba atuando como um conciliador, especialmente para com a prostituta que era hostilizada pelos outros hóspedes.

Sua mulher, ao ficar sabendo que ele lutou por dinheiro, fica brava. Ele não cumprir a promessa que tinha feito a ela. Além de ter usurpado o bushido (código de honra dos samurais): é proibido lutar por grana.

Mais à frente no filme, ocorrem algumas situações (que não vou falar senão perde a graça para quem não viu) que fazem a esposa de Misawa compreender o marido. E a faz admirá-lo ainda mais. Ela entende que o marido não age baseado nas regras sociais, mas segundo seu coração. Ele lutou por dinheiro porque era o único meio naquelas condições e naquela noite que pedia uma solução emergencial. Porque senão os hóspedes da pousada iriam enlouquecer e matar uns aos outros. Ele fez para o bem maior.

E a frase que a esposa de Misawa diz quando ela entende o marido é a seguinte:

“Não importa o que meu marido fez, mas por que ele fez o que fez.” E ainda dá uma cutucada nos servos do rei: “Mas vocês tolos não entenderão.”

Misawa tem de interromper o esporro que ela dá nos soldados do senhor feudal da região. Ele diz:

– Não precisa humilhar.

Tipo: diga a verdade, mas sem ofender e humilhar o outro. Você já deu o seu recado.

Mas o que fica de questionamento é o seguinte. Misawa, por agir assim, acaba vivendo experiências que só dão errado em cada feudo por onde passa e começa a trabalhar. Foi assim em dois outros feudos e neste. Ele diz que “nada dá certo” quando ele permanece em um feudo.

É claro, bicho! Como pode um cara que vive regras de outras instâncias estar numa instituição (feudo) cheia de regrinhas idiotas? Vai ser expulso mesmo. Porque não seguirá aqueles princípios preconizados pelo feudo. Ele segue outras leis.

Esse é o preço da consciência. A dificuldade de adaptação a um lugar cheio de regras que não são justas para a consciência. 

Ao mesmo tempo, também é inútil e insano querer mudar essas regras, essa instituição, esse feudo. Tais regras são úteis e necessárias para a maioria das pessoas que vivem ali.

A solidão social/institucional é consequência natural de um nível de consciência em que o Self dita as “regras”, as quais – muitas vezes – vão contra ao que é considerado certo e errado pela sociedade…

O bacana é que tal pessoa nunca está sozinha, tem a companhia de sua mulher (simbolizando a relação enriquecedora com sua ânima). 

Beijãozão nocês…

Yub

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