No último final de semana (sábado), logo após ter saido do aniversário de um querido amigo, eu e a Cris fomos ao cinema. Porque quando bati o olho no cartaz do filme O Preço do Amanhã, eu falei para ela que ele parecia ser bom. Transmitia-me a impressão de ser diferente, instigante.
Não deu outra. Um filmaço. Uma ideia original, daquelas que dá inveja, tipo: “putz! Queria ter inventado esta estória!” Muito interessante! O dinheiro é substituído pelo tempo. O tempo é a moeda de troca – e o que faz funcionar o sistema.
Há uma divisão de classes sociais (no caso, por zonas/regiões da cidade). E as menos favorecidas trabalham muito e mal conseguem sobreviver. É uma luta diária. Uma luta contra o tempo. E a morte. Se não tiverem tempo e o contador do pulso zerar, fim da vida.
Isso já dá pano pra manga sobre a questão da morte, da valorização da vida. Ou seja, a consciência da morte, de que posso chegar ao fim deste dia e morrer, como norteadora de uma qualidade de vida diferenciada. Eis basicamente a mensagem do protagonista, Will Casas (Justin Timberlake). É o que o norteia. A sua vida é uma experiência, portanto, bem intensa.
Porém, há outras mensagens que esse personagem carrega e transmite. Uma delas é a questão da doação. Doar tempo para os moradores da zona mais pobre e perigosa da cidade: a que ele nasceu. E, com isso, ajudar as pessoas a viverem mais.
Essa postura doadora de Will nos leva a belos questionamentos, inclusive polêmicos. E todos talvez passem pelo seguinte:
– Até que ponto devemos ajudar as pessoas? Até que ponto nossa ajuda não é uma piora da situação, senão individual, pelo menos social?
Porque Will Casas acaba doando muito tempo (=dinheiro) para os pobres. E estes não trabalham mais. O sistema é justamente construído sobre esse trabalho escravo. Através da produção dos trabalhadores pobres o sistema sobrevive, os ricos enriquecem mais (adquirem mais tempo – e qualidade – de vida).
A sociedade pobre vive na ociosidade quando Will doa tempo para elas. Elas, portanto, não vão mais trabalhar, não se submeterem mais ao trabalho escravo. E a produção cai vertiginosamente. Firmas se veem à volta da falência sem sua massiva mão-de-obra.
Eu fico pensando no quanto a maioria das pessoas trabalham para sobreviver. Acabam não trabalhando com o que realmente gostariam, com o que desejam e amam. Consequentemente, trabalham de modo infeliz. Geram lucro, produzem e fazem o sistema funcionar. Mas elas próprias acabam se robotizando e funcionando no automático da sobrevivência. Desligam do que realmente desejam, se é que sabem no que gostariam de trabalhar se não fossem obrigadas a aceitar qualquer emprego para terem dinheiro para sobreviver.
Creio que sob o capitalismo fica difícil atingir esse ideal de a maioria das pessoas trabalharem no que realmente lhes daria prazer, satisfação, alegria. Esse sistema teria de ruir para que um novo surgisse, um que nos levasse a ter prazer no trabalho.
Se cada um ganhasse na loteria, cada um destes que trabalha com o que é obrigado para sobreviver, não sei o que ocorreria. A maioria não voltaria a trabalhar no que trabalham. E não sei se tomariam a decisão de trabalhar com o que lhes daria satisfação. Talvez a maioria ficasse ociosa, apenas curtindo os louros da grana da loteria.
Talvez nós não estejamos preparados para esse sistema social em que o prazer fosse o capital-mor de remuneração e de opção para um trabalho. Creio que nós merecemos o capitalismo. Afinal, se ele existe, cada um de nós tem sua parcela de responsabilidade por essa criação…
Beijãozão nocês…
Yub