No sábado passado, dia 26/03/2011, fui com a Cris ao Show da Ana Carolina aqui em BH. Foi lá no Palácio das Artes. Eis o quanto estava lotado:
Este foi o terceiro Show que fui desta cantora que considero a melhor. Sou fã dela e de suas músicas. E desde o primeiro que assisti, eu passei a observar o comportamento de suas fãs. Continuei percebendo certos detalhes nos outros shows e cheguei a algumas reflexões que agora compartilho com vocês.
Ana Carolina tem uma grande quantidade de fãs que são mulheres homossexuais. A mulherada enlouquece com a cantora de Juiz de Fora. É impressionante… Só fui entender melhor esta reação das fãs no Show de sábado.
Eis os fatores que, a meu ver, a tornam um belo estandarte da vivência homossexual. As letras das canções de Ana são bem diferentes das que costumamos ouvir de outros cantores. A postura de Ana Carolina, aberta tanto a mulheres quanto a homens, mas enaltecendo sua preferência por relacionamentos amorosos com as mulheres. E também o fato de agora ter uma banda composta exclusivamente por muheres.
Ali no show, eu percebo o quanto os casais de mulheres homossexuais se sentem mais à vontade para explicitarem seu carinho e seu amor. Mulheres se beijando, de mãozinhas dadas, abraçadas e curtindo o Show de Ana Carolina me fazem crer que a cantora cria um ambiente em que a expressão homossexual é tão bela quanto a heterossexual. E merece ser vivida com naturalidade pelas homossexuais; e aceita também com naturalidade por parte dos heterossexuais.
Ou seja, é como se nossa hipócrita e conservadora sociedade não tivesse voz repressora nos shows da Ana Carolina. Na fileira à nossa frente, havia duas adolescentes namorando, se beijando e curtindo à beça o show. E ao meu lado, um casal heterossexual. O cara estava escandalizado com o comportamento naturalmente amoroso, carinhoso e caliente das duas mulheres à nossa frente.
Infelizmente, não vejo essa naturalidade dos homossexuais fora do ambiente “show da Ana Carolina.” Porque realmente é difícil assumir seu romance explicitamente fora desse contexto, como ao se beijar num ponto de ônibus, por exemplo. O preconceito de nossa machista sociedade trava esse tipo de natural expressão afetiva por parte dos casais homossexuais.
Então, percebi o quanto Ana Carolina é um tipo de ídolo para um público que clama e almeja viver com mais naturalidade sua homossexualidade. Só que, como ídolo, Ana Carolina é colocada num posto que recebe a projeção daqueles que a admiram. E corre o risco de ficar apenas nesse papel de idolatrada.
Explico-me melhor. Quando temos ídolo, é porque nós nos identificamos com ele em alguns aspectos. Gostamos do jeito de ser dele, do que ele conquistou, do que ele representa de objetivo que também desejamos alcançar. Quando um garoto idolatra Ronaldinho Gaúcho, é porque almeja ser um craque como ele no futuro. Quando uma mulher idolatra Ana Carolina, é porque – creio eu – sonha em ser amada pela sociedade ao assumir publicamente sua opção homossexual, do mesmo modo que a cantora é.
O risco da idolatria é a gente viver algo indiretamente, ou melhor, deixar que o ídolo viva aquilo por nós. Deixamos de nos inspirar no ídolo para buscarmos conquistar o que ele conquistou. Em vez de sermos inspirados pela trajetória do ídolo, evitamos o trabalho e os desafios de alcançar a posição social conquistada por ele.
Vejo os ídolos com o papel de servirem de referência pra nós. Ou seja, de mostrarem que é possível sermos de um jeito semelhante ao dele e conquistar o que ele conquistou. E não ficar recebendo exclusivamente a nossa projeção, como se ele – ao viver algo que sonhamos – “gastasse” uma energia que cabe a nós desenvolver e expressar.
Essa projeção é perigosa. Porque imagine se Ana Carolina, por exemplo, decide ter relacionamentos exclusivamente heterossexuais. E levanta a bandeira desse tipo de opção sexual? Olha a frustração que as fãs homossexuais fervorosas que a idolatram sentirão? Do amor idolatrado poderá surgir um baita ódio, por conta dessa decepção por parte de cada fã homossexual que considera Ana Carolina a maior porta bandeira de uma vida homossexual prazerosamente vivida…
Saber até que ponto projetamos nossas expectativas, sonhos e desejos em algum ídolo, em vez de nós buscarmos pegá-lo como referência inspiradora para trilharmos um caminho semelhante, de objetivo similar ao dele, é muito importante…
Os escritores que me inspiro, eu busco aprender com eles, com a trajetória deles. E tento não idolatrá-los, como já tive uma época que idolatrava Paulo Coelho e me sentia ofendidíssimo quando o escritor recebia aquelas críticas ofensivas dos intelectuais.
Obs.: por falar em inspiração por parte de quem admiramos, eis minha musa inspiradora no Show da Ana Carolina: :-))
Beijãozão nocês…
Yub