Melancholia, de Lars von Trier

Kirsten Dunst como Justine em foto promocional de Melancolia, de Lars von Trier. Imagem é referência à pintura Ophelia, de John Everett Millais (Divulgação

No início do filme, fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que cobravam de Justine (Kirsten Dunst) a felicidade. Cada uma, do seu jeito, buscava agir para deixá-la feliz. E lhe perguntavam se ela se sentia assim.
Coisa chata isso, né? A sociedade atual parece que não permite que ninguém seja infeliz. Ou melhor, não seja feliz como se espera que uma pessoa DEVA ser feliz.
O objetivo dessa cobrança, tal qual Justine sofreu, deve ser porque não ver o outro feliz pode representar um perigo. Sua infelicidade pode contagiar. Na verdade, apenas espelhará a sua própria infelicidade.
Como o próprio filme mostrou, os outros personagens são infelizes pra caramba. A diferença é que Justine não buscava uma muleta, um paliativo, enfim, fingir ser feliz. Cada um, do seu jeito, escondia sua infelicidade sob a carapaça de determinada fuga, seja por meio do trabalho (como o patrão da protagonista), pela imagem de bonzinho e compreensivo (como o noivo de Justine), pelo conhecimento (como o cunhado dela), etc.
Mas quando o paliativo, o mundo ilusório de cada um desabava e não se mostrava eficiente diante do contato com a nua e crua realidade, cada um surtou ao seu modo. E Justine, sábia, não entrou no jogo de nenhum desses personagens. Não fez nada para agradar. Ela apenas vivia a realidade, com suas belezas e rudezas. Não deixava de sentir medo, angústia, alegria, mágica, contemplação e… melancolia.
Viver é isso. É sentir as várias tonalidades da existência. Tentar escolher exclusivamente a felicidade é ter a infelicidade como companheira. O preço é muito alto: surtos dos mais variados tipos e imaturidade frente ao que a Vida lhe apresenta. 
Justine era tão feliz ao vivencar também a infelicidade que sabia ler não somente a alma de cada um, mas da vida como um todo. Tinha o dom da profecia. Nada nem ninguém lhe engava. Ela via de forma lúcida cada um e a existência. E lidava com isso. Era tremendamente realista. 
Sua mãe chegou perto desse estado. Era a que mais se aproximou desse sábio estado realista do viver. A mãe de Justine via a realidade, mas com aspereza, com profunda melancolia. Seu pai também via a realidade. Mas dava um jeito de escapar da mesma, justamente por não querer viver sob o peso dessa visão. Preferia enxergar tudo como sendo “Beth”. 
O fim do mundo (a morte) está aí. Quanto mais aceitarmos essa realidade, mais viveremos os momentos belos e sofridos com a mesma dignidade e sabedoria de Justine. A escolha é sua.
Obs.: Meu cunhado André também escreveu sobre o filme. Eis o link para o belíssimo blog dele: http://ostrainfeliz.zip.net/
Beijãozão nocês…
Yub  

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