O equilíbrio d’A Morte

Não sei aqui quem gosta de poesia, mas estava percebendo que um dos meus poemas favoritos representa bem a dinâmica da carta d’A Morte. É o “Autotomia”, da poetisa polonesa Wisława Szymborska (foto). Confiram:

Diante do perigo, a holotúria* se divide em duas:
deixando uma sua metade ser devorada pelo mundo,
salvando-se com a outra metade.

Ela se bifurca subitamente em naufrágio e salvação,
em resgate e promessa, no que foi e no que será.

No centro do seu corpo irrompe um precipício
de duas bordas que se tornam estranhas uma à outra.

Sobre uma das bordas, a morte, sobre outra, a vida.
Aqui o desespero, ali a coragem.

Se há balança, nenhum prato pesa mais que o outro.
Se há justiça, ei-la aqui.

Morrer apenas o estritamente necessário, sem ultrapassar a medida.
Renascer o tanto preciso a partir do resto que se preservou.

Nós também sabemos nos dividir, é verdade.
Mas apenas em corpo e sussurros partidos.
Em corpo e poesia.

Aqui a garganta, do outro lado, o riso,
leve, logo abafado.

Aqui o coração pesado, ali o Não Morrer Demais,
três pequenas palavras que são as três plumas de um voo.

O abismo não nos divide.
O abismo nos cerca.

*Também conhecido como pepino-do-mar, é um invertebrado que habita as águas profundas dos oceanos.

Se por um lado, A Morte representa um descarte inexorável, por outro, a experiência deste arcano nos coloca rumo ao futuro, rumo a uma nova situação, assim como as cartas de número 5 também anunciam. Contudo, fica sempre o lembrete: Não Morrer Demais, “três pequenas palavras que são as três plumas de um voo”. Morrer apenas o estritamente necessário. Chegar ao essencial, que é outra recomendação desta carta. Nada mais, nada menos. Apenas a medida exata de certa nudez. Boa Morte a todos!

beijo grande

Yuri Assis
Equipe Yub de Tarot
Twitter: @assisy
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