Sei que essa palavra (Karma) adquiriu uma conotação ruim nos últimos tempos. Virou sinônimo de algo negativo. Quando alguém quer falar, com uma certa raiva, satisfação e ar superior: “bem-feito para fulano de tal!! Teve o que merecia!!”, esse alguém agora diz: “Karma!”
Karma nada mais é do que a reação de uma ação. Se uma ação foi bacana, vai gerar uma reação bacana. Se foi ruim, gerará uma consequência não muito agradável.
Para a reflexão que quero fazer aqui hoje, vou precisar deste trecho do livro O Mistério das Coincidências: uma aventura guiada pela sincronicidade, de Eduardo R. Zancolli. Vamos lá!
“Entramos, finalmente, em um museu onde, nas vitrines, estavam representados diferentes momentos da história do budismo no Tibete por meio de bonecos desenhados e vestidos artisticamente. Foi ali que encontrei uma das possíveis explicações para a razão cármica que levara a China a invadir o Tibete. Uma das cenas mostrava um dos regentes tibetanos que invadira a China por volta de 800 d.C e a obrigara a pagar tributos, coisa que me parece ter durado cerca de 100 anos.
“Tinha agora uma explicação para uma das preocupações com que viajara: tentar entender por que a China invadira o Tibete em meados do século XX. Se a lei cármica funcionava como diziam, os tibetanos foram obrigados a sentir, na própria pele, o mesmo que fizeram antes com os outros (ou algo semelhante). Pensei que a este fora acrescentado outro motivo: o Tibete fechara-se muito em torno de si, limitando tanto a entrada de estrangeiros quanto a circulação de seus maravilhosos ensinamentos. E o mundo exterior precisava, imperiosamente, ter acesso a eles, pois só assim poderia evoluir e conseguir unir as culturas oriental e ocidental. A invasão chinesa obrigou os tibetanos a abandonar seu casulo protetor, caracterizado por uma sabedoria iluminada e pouco contaminada. Mas ainda havia um terceiro componente: era até certo ponto egoísta a atitude de não permitir que ela pudesse ser partilhada com os demais seres deste planeta. A invasão obrigou os tibetanos a se misturar com outros povos, transmitir seus ensinamentos e testá-los no contato com outras culturas, moralmente muito poluídas.” (paginas 90-91)
Tudo bem que esse exemplo parece mesmo enaltecer este lado do Karma:
O que a releitura desse trecho (grifado por mim quando o li pela primeira vez) me mostrou foi o quanto uma consequência ruim de uma ação gerada no passado (como a invasão do Tibete à China em 800 d.C.) pode ser o estopim para a gente manifestar nossos dons, os quais poderiam encontrar-se fechado, recluso e parado em nosso íntimo.
Se a gente encara os efeitos kármicos “negativos” com esse olhar, interpretando-os como dotados de um propósito maior, isso facilita a aceitação dessa consequência “negativa”. E a enxergamos como o estímulo que faltava para a gente expressar algo bacana de nossa natureza que estava inerte, escondido.
A pergunta que fica no ar é: será que se estivéssemos naturalmente expressando os dons que saíram por conta de uma reação kármica negativa, essa consequência ruim de uma ação passada teria necessidade de ocorrer? Será que esse evento kármico negativo ocorreria em nossa vida se estivéssemos manifestando nossos talentos de uma forma mais espontânea, fluida, natural?
Beijãozão nocês…
Yub