Tô aqui me deliciando com a leitura de O Poder do Mito, do Joseph Campbell. Ontem cheguei num trecho que me lembrou bem a diferença entre O Papa e o Eremita. Eis a transcrição:
“Há uma diferença básica, como eu vejo a questão, entre um xamã e um sacerdote. O sacerdote é um funcionário de uma determinada categoria social. A sociedade reverencia certas deidades, de uma certa maneira, e o sacerdote é ordenado como um funcionário incumbido de conduzir o ritual. A deidade à qual ele se devota já estava lá antes que ele aparecesse. Mas os poderes do xamã estão simbolizados nos seus próprios familiares, deidades de sua própria experiência pessoal. Sua autoridade decorre de uma experiência psicológica, não de uma ordenação social.”
O sacerdote é, inclusive, o nome que muitos tarots dão ao Papa. E este é uma autoridade instituída. Seu papel é submetido a uma ordenação social.
Um padre é um exemplo de Papa do Tarot. Ele foi ordenado. Fez curso, se preparou e foi aprovado pela ordem religiosa a qual se submete. Ele pode não ter tido nenhuma experiência mística. Mas acredita nas experiências dos santos da igreja a que pertence. Ele é um transmissor daqueles códigos preconizados pela sua ordem. Segue a Bíblia.
Ele não pode sair dessa codificação, desses preceitos. Precisa obedecer a essa ordem da qual faz parte.
O Eremita (que não sei até que ponto pode ser semelhante a um xamã) é diferente. Ele está sozinho. Não está amparado pelo trono do qual O Papa se encontra assentado (ou seja, amparado por essa estrutura instituída).
O Eremita conta consigo próprio, com sua própria luz interior. Ele, sim, teve a experiência direta e compreendeu o que viveu através de sua vivência psicológica, mística, enfim, de autoconhecimento.
Não tem uma ordem institucional para ampará-lo. Ele segue tateando no escuro a partir do seu próprio brilho interior. É este que ilumina o seu caminho.
Então, quando O Papa surge em nosso jogo de Tarot, seria bom perguntarmos até que ponto estamos reproduzindo teoricamente e intelectualmente certos códigos, padrões morais e religiosos dos preceitos que seguimos. Até que ponto estamos nos fundamentando não numa experiência pessoal, direta e intransferível, mas, sim, no que outros disseram que viveram…
O doido é que justamente O Papa representa aquele atributo de dogmatismo, de fanatismo, de imposição de certas crenças. Talvez porque não experimentou por si próprio se aqueles preceitos são válidos realmente para si ou não.
O Eremita não tem esse lado dogmático, fanático, de impor suas verdades. Talvez porque ele próprio experimentou o contato com a luz e sabe que cada pessoa está só diante das verdades da vida. E que cada um precisa descobrir por si próprio o que é válido ou não para sua experiência pessoal.
Essa vivência nos proporciona compreensão. Sabemos que nossa verdade não precisa ser imposta e nem idêntica à verdade do outro.
Beijãozão nocês…
Yub