Quando digo que Astrologia, Numerologia e Tarot parecem oráculos bipolares, eu estou sendo injusto. Na verdade, nós (astrólogos, numerológos e tarólogos) é que temos uma baita tendência a interpretar tais simbologias de um modo bipolar.
Como assim bipolar?
Vejo muito no twitter, por seguir vários astrólogos e tarólogos, o quanto há essa inclinação de ou consideramos um determinado posicionamento astrológico (ou um determinado Arcano do Tarot) como extremamente positivo ou tremendamente negativo.
E me noto tendo essa tendência também. Preciso estar muito consciente para não entrar nessa onda de interpretações oraculares marcadas pela bipolaridade. E só posso agir assim ao interpretar – primeiro pra mim mesmo – os meus próprios trânsitos de uma maneira mais lúcida e menos polarizada.
Tudo bem que cada posicionamento astrológico (seja o aspecto entre os planetas ou um planeta em determinado signo) é repleto de polaridades. Há um leque de possibilidades – tanto positivas quanto negativas – no rol de interpretações de tal posição astrológica. Mas ela não é mega positiva ou pessimamente ruim a priori.
Quando a gente vê lá uma quadratura de Saturno em relação ao Sol, pronto, isso já nos faz conectar com o pior resultado/vivência de tal aspecto astrológico. Consideramos que haverá uma baita depressão ou um bloqueio solapante de nossa criatividade e expressividade.
Se vemos Júpiter em trígono com Sol, pronto, isso é suficiente para considerarmos que só teremos sorte e viveremos durante um otimismo maravilhoso durante todo esse período.
Caso a gente preste atenção nos nossos trânsitos diários – como o da Lua -, veremos o quanto a expressão prática do que determinado simbolismo astrológico representa tende a ser, MUUUITAS VEZES, sutil. Pode ser um sentimento, um pensamento, um transitório estado de humor. E não ter nada de muito horripilante ou maravilhoso na prática, no nosso dia-a-dia.
Uma quadratura de Saturno com o Sol, por exemplo, pode simplesmente se mostrar de modo prático como um sentimento de tristeza. A vida transcorre normalmente, mas com esse estado de humor mais triste. Nosso olhar sobre a vida ganha sutilmente uma lente mais cinza. Há uma certa – e NATURAL – insegurança quanto à nossa identidade e criatividade. Mas nada que nos minará por completo e nos jogará num estado deplorável de negativismo e depressão.
Eu fico me questionando por que tal tendência bipolar existe em nossa maneira de interpretar determinado posicionamento astrológico. E amplio meu olhar para a sociedade como um todo. Parece que a própria sociedade é bipolar.
Quer um exemplo?
Ouvi o Luxemburgo (técnico do Flamengo e que foi o treinador da triplice coroa do meu Cruzeiro em 2003) fazendo uma declaração no jogo de sábado. Ele disse:
– Existe uma reação por parte da imprensa e da torcida aqui no futebol brasileiro que o time ou é o melhor do mundo quando ganha ou que está tudo errado no time, que este é o pior do mundo, quando perde.
Ou seja, essa é uma reação bipolar. Perdemos o olhar lúcido sobre as coisas. Vemos tudo em preto e branco. Somos radicais em nosso julgamento, ao considerar cada evento ou heróico ou trágico. E não vemos que o herói é herói por causa dos eventos trágicos… Heroismo e tragédia andam juntos.
O jogador Neymar, por exemplo, foi colocado pela mídia no posto de bipolar-mor. Quando joga bem, ele jogou espetacularmente, é um craque fenomenal. Se joga mal e vai expulso, comenta-se por aí que ele não deve vestir a camisa da seleção brasileira, que é um jogador ainda imaturo, etc. Ele é alçado às extremidades pela mídia e pelos torcedores.
Mas todo mundo passa por isso em sua respectiva vida. Aliás, ou a vida é considerada maravilhosa (“tá TUDO dando certo”) ou uma lamúria só (“tá TUDO dando errado”). Ficamos nessa oscilação bipolar, nesse radicalismo de que as coisas ou são pretas ou são brancas. Pôrra… a vida é preta, branca e cinza AO MESMO TEMPO. Que mania a nossa de separar as sutilezas – ou mesmo nem percebê-las!?!? Caramba…
Então, por essa tendência social, nós astrólogos, numerólogos e tarólogos também embarcamos nesse olhar bipolar na leitura de nossos oráculos. E até mesmo somos convocados por nossos clientes e leitores a fazer uma leitura bipolar de seus mapas, trânsitos e jogos.
Tanto é que algumas pessoas me procuram dizendo que se o Mapa falar algo negativo, elas não querem saber. Querem saber apenas as coisas boas. A questão é que as coisas boas estão de maõs dadas com as coisas ruins. Não há como excluirmos as polaridades da vida. Mas fazemos isso ao lermos os simbolismos de uma forma bipolar. Porque consideramos que só serve uma polaridade em detrimento da outra. Ou estamos numa polaridade ou noutra. E isso é incorreto. Vivemos, ao mesmo tempo, o negativo e o positivo de cada Signo, por exemplo.
Se a gente gosta do lado dinâmico, estimulante e motivacional de Áries, queremos excluir o lado impulsivo e às vezes individualista de tal signo. Só que Áries representa um pacote. Do mesmo modo, se admiramos a competência, a capacidade organizacional e a eficiência produtiva de Virgem, não queremos que haja também o detalhismo e o lado crítico virginiano. Mas Virgem também é um pacote. Se Virgem não fosse detalhista, crítico e “chato”, ele não seria competente, produtivo e eficiente. A competência virginiana ocorre por saber lidar tão minuciosamente com os detalhes.
A gente não vê que uma qualidade, um atributo, vem junto com outros. Estes, em conjunto, formam o todo, repleto de tonalidades positivas e negativas CONJUNTAMENTE.
Beijãozão nocês…
Yub